09 agosto 2008

Hora e Espera

Andante descalça,
de ombros caídos
com teus passos soltos,
fingindo não mapear o relógio,


Que horas são?

Á esperar por hora clara, certa...
que ela se acertasse

e que fosse pontual...

Que fazes hora contigo?

O relógio percorre todo círculo,
e a minha hora desencontra

o ponteiro, não a achas...
salta o ponto,
como se este fosse precipício,

meu olhar indo distanteee...
voltando e nada trazendo,

e de novo repetia, ia... e nada!

Éramos apenas nós em circunferência,
ele o ponteiro,

e "em curtos" o meu juizo...

Em vão eu tateava o pensamento,
faltavam peças no relógio,
ou em minha engrenagem,

buscando aquele ponto de encontro (.)
que outrora fazíamos?


A hora á abraçar a espera
que não existia, mas, é tarde!
A hora esquecida adormeceu,
o ponteiro certeiro partil,

e a espera, é fértil...

Vera Lúcia Bezerra

Chama água...

Chama água...

Ainda abro a porta desta
comporta e regurgito
“ou engulo de vez”
esse apelo mais que meio,

Flor em chamas
“só chama” águaaaa...

"só a imaginação crer”,
nestes vôos no leito,
de borboletas,
de beija flores e

de quero, quero...
O seio se desnuda com a seca,
Chora a rosa, chora a esperança,
E o “louva deus” no roseiral...

O caule curva-se diante a estiagem,
a folhagem treme e amarelam,
os espinhos despontam
e os botões se apequenam ainda mais

Fiz fumaça, dancei descalça,
pedi chuva ao tupã! “e nada”
nadam apenas as meninas dos meus olhos,

Torra o chão,
torra até o caminho do grotão!
E o jardim não mais floriu

* Vera Lúcia Bezerra

Leitura na mesma Altura

o terço que canto é mantra,
a corte entende,
“meu rei, minha rainha”...
Ousei bolinar o teu véu de letras.
Quantas aves, Maria?

deveria me cansar com o esbravejo
dessa cantoria aqui no meu seio...

Mas, fui me afeiçoando!


Aves, Maria,
“É tempo de ouvir a voz de dentro”,
esse emoldurado de vícios sorrindo,
“desse apuro” sendo retratado
pelos redemoinhos destes dedos,
a ponta do lápis pedindo espaço
no branco do papel.


Sem aves Maria ...
Aqui o ar é puro.

“Trevas” é a cegueira perniciosa.
E não tem nome de demônios...
Grafitei empório místicos,

lindossss, até floriam,
“outrora tão hora”,
na franja dos meus cílios te via!

Bendito é o fruto da luzzz.
Vou-me, já.

Com os estrondos de
a agonia dormir...
passem dias! passem noites,
Pa sarasssssss sem penas,

mais uma pedra no terço, e bis.
um rabisco de luz para o
“eu” enxerga o foco,
o grafite marcando o
papel branquinhooooo,
e a poesia á quebrar linha,
vai sumindo, sumindooo

Vera Lúcia Bezerra
Imagem
Muriel Josephine Cockell Scott

Minha amiga "Carmen"


O frio lá fora...

Mas aqui dentro,
temperatura de boca de vulcão em erupção...
lava por todos os lados...
incandescência...
labaredas formam
cordilheiras altíssimas ao redor...
poesia acesa...
eu, ao pé do altar...
o poeta dorme,
eu canto louvores ao amor,
pura chama me chama

* Carmen Regina Dias

No palco

A canção não se firma,
se despede a maestrina,
guarda os braços, e o coral se senta.

Arrisco um fiasco de voz,
mas a minha garganta
craquela, inaudível...
trava o coro seco de paixão,
e os teus ouvidos nem ouviram...
"CoUro sEco" tem beleza não?

A língua sedenta se emborca á fonte hibisco,
o carmim das teias eriçam, e "branco fica”,
te vejo envergar á uma outra platéia...

Noutra arena, o encanto,
toma o “Aplauso das mãos”...

“atrás do palco, me amargo fel”
universo despeço...

Talvez assista a nebulosa em meus olhos,
Talvez minta, não vê as bolhas dos meus pés,
marchando no tira teima,
talvez essa versão te surta o corpo...
e não mais foque a tua imagem, noutra fonte...
Vera Lúcia Bezerra